Pedalar, nadar, comer, beber, trilhar, dormir, descubra histórias e personagens fascinantes do Alto da Serra nessa série de reportagens que traz o melhor da vila inglesa na visão de um especialista em Paranapiacaba.
Por Jairo Costa*
Depois de um ano e meio de pandemia, finalmente agora, com a vacinação contra a covid-19 em processo de aceleração, São Paulo reabre e a vila histórica de Paranapiacaba (Santo André-SP) volta a receber o público com museus, trilhas e demais pontos turísticos liberados para visitação.
Neste mês de julho de 2021, apesar de não termos pelo segundo ano consecutivo o tradicional festival de inverno (ele acontecerá em edição on-line), a vila anda registrando números expressivos de visitantes que fazem Paranapiacaba recobrar o fôlego e reafirmar sua vocação turística.
E foi pensando justamente em ajudar a recrudescer a economia local e seu turismo histórico, ecológico e cultural nessa retomada que eu, Jairo Costa, pesquisador, membro do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Santo André (Comdephaapasa), coordenador do SOS Paranapiacaba e autor do livro “Lendas e mitos de Paranapiacaba” resolvi fazer este roteiro.
Frequentador da região há mais de 20 anos, sempre usando meu indefectível chapéu, pude conhecer a fundo as particularidades da vila mágica, fazer muitas amizades e percorrer suas trilhas de cima a baixo. É dessa experiência que nasce o presente texto. Aqui você vai encontrar um relato particular com algumas recomendações de roteiros para que você possa aproveitar ao máximo nossa vila histórica. Usem máscara sempre e bom passeio!
Vá de bike!
Bikes dentro do trem da CPTM rumo Rio Grande da Serra/Paranapiacaba. De capacete branco, autor deste artigo chega a Paranapiacaba. Fotos: Jairo Costa/Estranhos Atratores.
Paranapiacaba é uma vila amada pelos ciclistas paulistas. Aos finais de semana é difícil olhar para a vila e não encontrar um entusiasta das “magrelas” com um sorriso no rosto, circulando entre as edificações históricas.
Se andar de bicicleta já é uma experiência libertadora, mais incrível ainda é poder pedalar até Paranapiacaba, coisa que centenas de pessoas fazem todos os finais de semana, e você, se tiver disposição, pode fazer também.
Se não for possível partir pedalando de sua cidade até a vila, a dica é pegar a linha 10 – Turquesa (CPTM) até a estação Rio Grande da Serra e de lá seguir para a vila (aproximadamente 17 km).
A estrada de Paranapiacaba é muito bem sinalizada, com pouco ou quase nenhum trânsito, tem um asfalto próximo da perfeição e a paisagem da Serra do Mar que margeia a Rodovia SP-122 – Adib Chamas é encantadora.
Este passeio é indicado apenas para pessoas já habituadas a práticas esportivas de longa distância utilizando a bike. Recomendo ir em grupo, levar água, lanche, câmara sobressalente e ferramentas para possíveis reparos emergenciais na bicicleta.
Rud’s Bar
Parada obrigatória na parte alta da vila, o bar do Rud (Rodnei Soncine) fica no começo da ladeira que nos leva até o núcleo histórico da vila, localizado na parte baixa. O Rud’s Bar é o ponto de encontro de enormes pelotões de ciclistas que vêm de todos os cantos de São Paulo tomar uma cerveja gelada e degustar a sua famosa coxinha.
Sério, vem gente pedalando do Pico do Jaraguá até a vila pra saborear essa iguaria tipicamente brasileira. Rud, o proprietário, é um amigo leal sempre bem humorado, atencioso e seu bar possui a melhor vista (panorâmica) da vila inglesa. No bar do Rud você pode sentar com familiares e amigos e ver o clima serrano se manifestando, a neblina indo e vindo enquanto um rock antigo toca na jukebox.
Cemitério Bom Jesus de Paranapiacaba
O mais antigo cemitério do ABC paulista, conhecido popularmente como Cemitério de Paranapiacaba, fica localizado na Estrada de Paranapiacaba, s/nº (SP-122). Fundado oficialmente em 25 de julho de 1890 (mas funcionando desde 1863), em uma área de 20.000 m², com 600 jazigos de concessão perpétua, o cemitério foi construído pelos ingleses da São Paulo Railway e administrado pela Igreja Católica durante vários anos.
Ali estão enterrados vários trabalhadores que construíram a ferrovia e a vila de Paranapiacaba. Além de brasileiros, alguns estrangeiros foram sepultados lá: italianos, espanhóis, portugueses, menos os ingleses!
O cemitério da vila é um testemunho da inexorabilidade da existência humana e guarda os restos mortais de muitos operários que perderam suas vidas em acidentes enquanto construíam ou operavam a estrada de ferro e o sistema funicular, pessoas que de certa forma deram suas vidas e contribuíram para tornar o estado de São Paulo no gigante que é hoje.
Com uma boa gestão o local poderia facilmenta se tornar museu, a exemplo de alguns cemitérios existentes na Europa como o Père-Lachaise localizado em Paris. No Bom Jesus você vai encontrar túmulos do fim do século XIX e começo do século XX, alguns com lápides escritas em português antigo, outros com fotografias desbotadas que homenageiam velhos membros da antiga comunidade do alto da serra.
O zelador do cemitério, Seu Laércio, que também realiza os serviços de sepultamento, é um dos personagens da vila que vale a pena conhecer e bater um papo.
Ferreira’s Bar
Localizado na rua Direita nº 361, o bar do seu Ferreira serve vários pratos, porções e bebidas, mas a sua iguaria mais famosa é o torresmo, que aos fins de semana são preparados em três fornadas ao longo do dia. As tiras de torresmo são crocantes, secas e suculerntas. Acompanhadas de um molho especial da casa ou apenas de algumas gotas de limão, o torresmo do Ferreira’s Bar é uma experiência gastronômica única para quem aprecia um bom petisco gorduroso. Outro destaque do bar do seu ferreira são os peixes fritos muito bem servidos (porções generosas).
Torresmo do Ferreira’s Bar.
Foto: Jairo Costa.
Lendas e mitos de Paranapiacaba
Em um dia qualquer no ano de 1999, após voltar de uma trilha na Serra do Mar e passar algumas horas conversando com moradores locais, voltei assustado e fascinado com algumas histórias arrepiantes que ouvi por lá.
Depois daquele dia nunca mais parei de visitar a vila, passando a investigar e registrar as mais variadas lendas contadas por antigos moradores, ex-ferroviários, turistas e trilheiros até que, em 2014, publiquei o livro “Paranapiacaba, lendas e mitos” (Editora Estranhos Atratores), que imediatamente virou sucesso de crítica e de público.
No vídeo abaixo você pode conhecer um pouco mais das lendas.
Para adquirir o livro entre em contato através do e-mail: estranhosatratores@gmail.com ou mande um zap para a editora: (11)941408049.
More Stories
“Fogo nas Caldeiras” e “O Pau da Missa” estreiam no Cine Lyra em Paranapiacaba
Escritores de terror se reúnem nesse fim de semana em Paranapiacaba
BRUNO DEL REY E A VOZ QUE ACALMA O DHARMA – O QUE SERVE DE MOTOR, O DISCO!